quinta-feira, 28 de novembro de 2013




Bicicleta I.N.

Revista Bicicleta por Valter F. Bustos
23/11/2013
Bicicleta I.N.
Foto: Valter F. Bustos
A pergunta mais comum e recorrente que ouvimos no MuBi/Joinville é: “Qual a bicicleta mais antiga do museu?”. Na condição de monitores ou no atendimento aos visitantes, respondemos que a bicicleta mais antiga não significa que seja a mais interessante ou rara. Essa é uma situação de simples explicação e sem nenhuma complexidade, pois, uma bicicleta por mais antiga que seja, existe a possibilidade de encontrarmos uma ou mais do modelo seja nas mãos de antigos proprietários ou colecionadores. Ademais, de concreto, sabemos que foram veículos produzidos em série, dentro ou fora do país. No entanto, quando falamos de “peça única”, estaremos, verdadeiramente, falando de uma raridade.
Por essa razão, fato que nos qualifica e alegra muito, o Museu da Bicicleta de Joinville, o “MuBi”, possui em seu acervo 28 bicicletas nessa condição privilegiada. São peças que foram produzidas pelo artista plástico paulista Israel Nicolau que, além de grande amigo, é figura carimbada no mundo das duas rodas, com passagens pelos famosos programas de entrevistas nas telinhas de Sampa, detentor de vários recordes em sua especialização; além de respirar bicicletas todos os dias. Outro detalhe que agrega valor às suas peças é que Israel emprega, exclusivamente, material reciclado em suas bicicletas. 
Trabalhando em seu atelier, ele aproveita das bicicletas convencionais a caixa de direção superior e inferior, movimento central e as gancheiras para as rodas dianteira e traseira. O resto vem de sua imaginação e criatividade quase ilimitadas. 
Os demais materiais ou componentes do projeto, ele vai buscar em desmanches e ferros-velhos na forma de restos de perfis metálicos, camas tubulares, ferro de construção de várias bitolas, porcas, argolas, correntes; qualquer que possa ser soldada ou colada, nas mãos de Israel Nicolau se transforma numa bicicleta única. 
De suas mãos, nada sai ao acaso. Cada novo projeto é pensado, transferido para o papel e executado. Por outro lado o domínio da geometria de uma bicicleta (cortes, ângulos e aberturas), tornam cada bicicleta uma joia, e, mecanicamente falando, correta e funcional. Das peças que possuímos no MuBi, foi selecionada a “IN-Argolas”; concebida com sobra de cortes ou acertos de tubos metálicos. Essas peças conflitam, no bom sentido, com as bicicletas antigas em exposição, pois chamam muito a atenção de nossos visitantes. Ademais, elas fazem um contra-ponto entre o inusitado da criação ousada e desafiadora, com o clássico desenho das bicicletas dos anos 40 e 50 do século passado. Por sorte, nesse ambiente surge o encantamento de nossos visitantes com o que vê e sente, claro, todos apaixonados por bicicletas.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Nosso novo parceiro: HUPI Bikes

Desde que O norueguês Roald Amundsen liderou a primeira expedição bem-sucedida ao Polo Sul, em 1912, uma longa lista de aventureiros já explorou a região mais fria da Terra a pé, de esqui e até usando pipas de kite. Mas, até muito recentemente, nunca ninguém havia tentando chegar lá pedalando. No entanto, graças à tecnologia e à popularização das chamadas “fat bikes” – modelos encorpados e com pneus gorduchos de 4 a 5 polegadas que conseguem atravessar terrenos com muita neve e areia –, uma nova “corrida ao ouro” tem agitado o universo das expedições polares. Quem será o primeiro a conquistar em duas rodas aquela que é considerada por muitos umas das últimas fronteiras da aventura?

imagem


Gente renomada já se lançou no desafio, entre eles o norte-americano Eric Larsen, que há 15 anos dedica-se a expedições nos lugares mais remotos do planeta (em 2010, tornou-se a primeira pessoa a chegar aos “três Polos do globo”, o Polo Sul, o Norte e o Everest, em um período menor que 365 dias). No finalzinho do ano passado, Eric anunciou que estava dando início a sua Cycle South Expedition, com o ambicioso projeto de se tornar o primeiro a cruzar o continente antártico, da costa até o Polo Sul, percorrendo um total de 1.200 quilômetros em uma Moonlander, fat bike da marca Surly. “Além da aventura, meu objetivo com essa expedição é mostrar que a bicicleta pode ajudar a proteger o meio ambiente e a melhorar a vida das pessoas”, disse ele na época. Infelizmente péssimas condições de tempo fizeram Eric cancelar sua viagem após 275 quilômetros e 16 dias.

A saga, ainda que mal sucedida, fez os olhos de outros aventureiros crescerem para o possível recorde do pedal polar. Caso do norte-americano Daniel Burton, que, em outubro passado, divulgou seu projeto The South Pole Epic. A missão é parecidíssima com a de Larsen: cruzar de bike com pneuzões de 4” cerca de 2.200 quilômetros (ida e volta) da Antártida, a partir de um ponto chamado Hercules Inlet (o mesmo escolhido por Eric), até o Polo Sul. Com quase 50 anos, a serem completados durante a viagem, Daniel passou 23 anos trabalhando como programador de computador e levando uma vida sedentária. Até que, pouco antes de ser demitido da empresa, exames mostraram que seu colesterol estava alto. A crise de meia-idade veio com tudo e, com ela, a vontade de se transformar em uma fonte de inspiração para outras pessoas que desejam levar uma vida mais saudável. Abriu uma bicicletaria, a Epic Biking em Utah, onde vive. Após saber que poderia virar um recordista mundial, detentor de um feito inédito no universo das expedições polares, Daniel não titubeou, jogando-se de cabeça na aventura.


imagem


Por causa das duríssimas condições climáticas, com dias de friaca que podem despencar abaixo dos 30ºC negativos, e traiçoeiras fendas no gelo, expedições de bike no Polo podem ser extremamente perigosas. Daniel não sabe precisar quantos dias levará para percorrer todo o trajeto, mas calcula algo em torno de 50 a 60 dias até o Polo, a partir da data de seu voo do Chile até o glaciar Uno, agendada para 23 de novembro. A viagem de volta, com vento a favor, demoraria menos, e ele prevê estar em casa em 22 de janeiro de 2014. Daniel, que viajará sozinho, carregará toda a comida que precisará, além de dois telefones satelitais para enviar informações a parentes e amigos.

Daniel precisa contar com a sorte e não perder tempo se quiser vencer essa corrida polar. Logo atrás dele está o espanhol Juan Menedez Granados. Nos últimos dois anos ele tem se preparado para pedalar da costa da Antártica até o Polo Sul, em uma jornada não assistida (ele levará todo o equipamento e alimentação, e nenhum veículo irá ajudá-lo ao longo do trajeto) de 1.200 quilômetros, previstos para serem percorridos em 35 dias, a partir de dezembro deste ano. Amarrado na bike, haverá um trenó com 90 quilos de comida, roupas e outros produtos para sua sobrevivência.

Para testar seu equipamento – uma bike Surly de pneus de 4.8 polegadas – e suas capacidades físicas sob um frio de lascar, Juan foi para a Groenlândia em setembro. Ao lado de uma equipe para monitorá-lo, pedalou 600 quilômetros em 27 dias, enfrentando seis tempestades (em vez de três, como havia previsto). “Pequenos detalhes fazem a diferença em uma viagem desse tipo. Da escolha da luva até o tipo de pneu, nutrição e estratégia, tudo tem de ser muito bem calculado para evitar imprevistos”, diz Juan, que, entre outras aventuras, já pedalou pelo lago Baikal, na Sibéria. Também traz no currículo expedições na Amazônia, nos Montes Urais (Rússia), na Austrália e nas neves do Canadá.

Até uma mulher entrou na caça ao título de primeiro ser humano a pedalar até o Polo Sul: a australiana Kate Leeming divulgou que, no segundo semestre de 2014, terá início seu projeto Breaking the Cycle: South Pole. Sozinha, tentará pedalar da costa antártica até o Polo Sul, em um trajeto de pelo menos 1.200 quilômetros. Kate não é nenhuma novata deslumbrada do mundo das expedições: em aventuras que somam, segundo ela, quilometragem suficiente para duas voltas ao mundo na linha do Equador, a moça já pedalou, por exemplo, mais de 22 mil quilômetros pela África, incluindo o norte da Somália. Também já rodou de bike 25 mil quilômetros pela Austrália e 13.400 quilômetros pela Transiberiana. “Preciso de mais meses para me preparar direito, por isso resolvi que vou partir apenas em novembro de 2014. Preciso desenvolver melhor os equipamentos que vou usar e também treinar bastante para conseguir ter sucesso nessa nova expedição”, anunciou Kate há pouco tempo. Enquanto isso, ela tem feito training camps em locais como Spitsbergen, uma ilha no Ártico repleta de fiordes, montanhas cobertas de neve e dias abaixo de zero semelhantes ao que encontrará no Polo Sul.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de novembro de 2013)

Fonte : Go Outside - Por Mariana Mesquita